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ARTE

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ALEKSANDR PÚCHKIN (1799-1837) - DEMÓNIOS







Galopam nuvens, rodam nuvens;
A lua a espaços alumia
A nevasca a rodopiar;
Preto é o céu, a noite breu.
Lá vou, lá vou, por campo aberto,
Guizos din-din a tilintar...
Nem que não queira mete medo,
Medo o descampado alvar!

«Arre, cocheiro, anda!...» - «E forças?
Isto está ruim para os cavalos;
A nevasca cola-me os olhos,
A neve atulha os atalhos;
Mato-me e não vejo o carreiro;
Perdemo-nos, sim! Tanto monta!
Estou que nos leva o diabo,
Faz-nos dar volta atrás de volta.»

«Olha o safado, como brinca:
Bufa e cuspinha-me na cara;
Agora atira prà ravina
O cavalinho tresloucado;
Ali transforma-se num poste
Que se espeta à minha frente;
Sumiu-se ali, era faísca
No vão da noite reluzente.»

Galopam nuvens, rodam nuvens,
A lua a espaços alumia
A nevasca a rodopiar;
preto é o céu, a noite breu.
Tanta volta que esmorecemos;
Calam-se os guizos de repente;
Pára o coche... «Ali, o que temos?» -
«Tronco ou lobo. Sabe lá a gente?»

Enrija a neve, a neve chora;
Sentidos, bramem os cavalos;
Saltam dois olhos para longe,
Luzem no escuro relâmpados.
Correm os bichos outra vez;
Din-din-din volta o guizalhar...
Bem vejo: ajuntam-se os demos
No meio do plaino alvar.

No jogo túrbido da lua,
Ajunta-se o bando horrendo,
Díspar, vasto, redemoinha
Como as folhas em Novembro...
Tantos! Por que vão espantados
E choram lastimosamente?
Será que se casa uma bruxa
Ou enterram algum duende?

Galopam nuvens, rodam nuvens;
A lua a espaços alumia
A nevasca a rodopiar;
Preto é o céu, a noite breu.
Enxame atrás de enxame, os demos
Pelo alto infinito vão,
Zunem, uivam, choram aflitos
Rasgando-me o coração.

Tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra

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